sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Porto Alegre, a mal entendida

Porto Alegre vive à beira de alguns mal-entendidos.

Para começar, vive à beira de um rio que não é rio. O Guaíba é um estuário, ou como quer que se chame essa espécie de ante-sala onde cinco rios se reúnem para entrar juntos na Lagoa dos Patos. Mas todos o chamam de Rio Guaíba.

A rua principal da cidade não existe. Você rodará toda a cidade à procura da Rua da Praia e não a encontrará. Usando a lógica - o que é sempre arriscado, em Porto Alegre - procurará uma rua que margeia o rio (que não é rio), ou que comece ou termine numa praia. Se dará mal. Não há praias no centro da cidade, e nenhuma rua ao longo do falso rio se chama "da praia". Finalmente, desconfiado de que a rua principal só pode ser aquela que concentra a maior parte do tráfego de pedestres no centro, você consultará a placa e lerá "Rua dos Andradas". Mas ninguém a chama de Rua dos
Andradas, chamam pelo nome antigo, Rua da Praia. Por que da praia? Ninguém sabe. Só se sabe que ela vai da Ponta do Gasômetro, que não é mais Gasômetro, até a Praça Dom Feliciano, que todos chamam Praça de Santa Casa, passando pela Praça da Alfândega, que já foi praça Senador Florêncio, mas voltou a ser Praça da Alfândega porque ficava na frente da Alfândega - que não existe mais.

Confuso, você talvez entre no prédio da prefeitura para pedir satisfações, só para descobrir que entrou no prédio errado. Existe outra prefeitura, a nova, atrás da velha, que por sua vez tem na frente uma praça chamada não Porto Alegre mas Montevidéu.

Na prefeitura certa talvez lhe digam para ir se queixar ao bispo, tendo que, para isto, subir a Rua da Ladeira até a Praça da Matriz, onde fica a Catedral. Desista. Você não encontrará a Rua da Ladeira, que hoje se chama (só ela se chama, porque ninguém mais a chama assim) General Câmara, e a Praça da Matriz na verdade é a Praça Marechal Deodoro, embora poucos porto-alegrenses saibam disto.

A única vantagem de toda esta confusão é que você precisará de muito tempo para ir decifrando Porto Alegre, ao contrário do que acontece em cidades previsíveis e sem graça como Paris, Roma, etc., onde tudo tem o mesmo nome há séculos - e ir degustando-a aos poucos. Acho que não se decepcionará.

Vencidos os primeiros mal-entendidos e localizada, por exemplo, a “Praça da Matriz”, você pode fazer uma visita ao Theatro São Pedro, um dos orgulhos da cidade com seu prédio em estilo barroco português e sua pequena platéia em forma de ferradura. Há quem diga que é o teatro mais bonito do Brasil. Certamente é o mais bem cuidado. Inaugurado em 1858, esteve fechado por uns tempos e foi magnificamente restaurado para sua reinauguração há poucos anos. Da sacada do seu primeiro andar, onde ficam o foyer e o café, você pode olhar a Praça de cima. Se tiver sorte, os jacarandás estarão florindo. Do outro lado da praça estão a Catedral e o palácio do governo estadual, ou Palácio Piratini, esse no estilo neoclássico francês. Duas coisas surpreendem alguns visitantes em Porto Alegre pela quantidade insuspeitada: a arquitetura neoclássica e os jacarandás.

Saindo do Theatro São Pedro você pode aproveitar para dar uma olhada na Biblioteca Pública (outro exemplo do estilo neoclássico), e principalmente uma espiada no seu Salão Mourisco, ricamente decorado. Desça a Rua da Ladeira. Está bem, a General Câmara. Você chegará ao chamado Largo dos Medeiros e a outro mal-entendido municipal. O largo tem este nome extra-oficial em homenagem a um café que tinha ali e não tem mais. Não, não se chamava Café Medeiros, os donos é que se chamavam assim. Não importa, vire à esquerda e siga pela Rua da Praia - dos Andradas! dos Andradas! - passando a Praça da Alfândega, onde todas as primaveras se realiza a famosa Feira do Livro de Porto Alegre.

Depois de uma curta caminhada você chegará ao antigo Hotel Majestic, hoje belissimamente transformado na Casa de Cultura Mario Quintana, com teatros, cinemas e salas para cursos e exposições. Vale a pena entrar para ver o que foi feito do velho hotel e ir até o Café Concerto na sua parte superior, ou então deixar para voltar lá na hora do pôr-do-sol. Um pouco mais adiante na mesma Rua da Praia, à sua esquerda, você verá a igreja Nossa Senhora das Dores, com uma grande escadaria na frente. A fachada e a escadaria são iluminadas à noite, é uma das bonitas visões da cidade.

Volte pela mesma Rua da Praia em direção ao centro. Ao chegar à Avenida Borges de Medeiros, pegue a esquerda e desça até o Mercado Público, perto da prefeitura e da já citada Praça Montevidéu, onde está a graciosa Fonte de Talavera de la Reina, um presente da comunidade espanhola à cidade. Passeie dentro do mercado e veja as suas "bancas" especializadas, como a que vende vários tipos diferentes de erva para o chimarrão. Os morangos com nata batida da Banca 43 são famosos.

O pôr-do-sol não pode ser reivindicado como atração turística de Porto Alegre, já que tecnicamente ele acontece fora dos limites estritos do município, mas saber se colocar para assisti-lo é uma das artes da cidade. O novo Café Concerto, na cúpula do antigo Hotel Majestic, com uma vista desimpedida do “rio” e do poente, já tem seus adeptos, mas o ponto tradicional dos crepusculistas é o mirante do Morro de Santa Teresa. Você precisará de transporte para ir do centro até lá e se for de táxi, para evitar outro mal-entendido, diga ao motorista que quer ir ao “Morro da Televisão”. Do mesmo mirante você terá a melhor vista da cidade, cuja topografia já foi comparada à de São Francisco na Califórnia. E verá, lá embaixo, o imponente estádio do grande Sport Club Internacional.

Outro bom lugar para se olhar a cidade e o pôr-do-sol é o Morro do Turista. Para chegar lá você precisa pedir para ser levado ao Morro da Polícia. É o mesmo morro.

Aos domingos pela manhã, boa parte da população de Porto Alegre vai ao “Brique da Redenção”, assim chamado porque fica no Parque Farroupilha. Calma. O Parque Farroupilha, um dos maiores parques urbanos do mundo, é conhecido pelos porto-alegrenses como Parque da Redenção. Ou, sucintamente, “a Redenção”. “Brique”, na língua gaúcha, é o encurtamento de “briqueabraque” e é uma feira de antigüidades em que tudo, até revista da semana passada, é considerado antigüidade. Mas em meio às porcarias assumidas, há louças e pratarias, livros valiosos, selos e moedas e principalmente muita gente vendendo, comprando ou só passeando.

O parque se chama Farroupilha em homenagem à revolução do mesmo nome que os gaúchos fizeram em 1835 contra o império, proclamando a República Rio-grandense. Mas, embora todo mundo aqui hoje comemore a insurreição, Porto Alegre manteve-se fiel ao governo central e por isto mereceu o título de “leal e valorosa cidade” conferido pelo imperador Pedro II, e que está no seu brasão.

Outro mal-entendido.


Luis Fernando Verissimo.

O pulsar (1975) Augusto de Campos

Onde quer que você esteja,

em Marte ou Eldorado.

Abra a janela e viaja,

o pulsar quase mudo

abraço de anos luz,

que nenhum sol aquece

e o eco escuro esquece.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Porque é chato estudar jornalismo...

I.A constante busca pela compreensão da realidade.
II.A neurose por crase, ponto, vírgula, acentos,ditongos, hiatos, sujeitos e predicados.
III.A busca pelo furo, pela exclusividade, pela futilidade.
IV.A mesmice de todos os jornais, o fato do mundo conhecer o mundo através do ponto de vista dos grandes veículos de comunicação.
V.A simulação da realidade.
VI.A mentira narrada como pura verdade, em funçao da manipulação da sociedade.

O maior ético é o jornalista, que busca tanto a verdade,mas comunica distorcendo a realidade.
Não que isso tudo seja ruim, mas não existem ideais em função do mundo capitalista.

Tragédias naturais soltas ao vento

Nesse dia o rio secou.
O mar enfureceu.
Soltaram balões no dia sem luz.
O soprar do vento é furacão.
O dia sem luz era igual.
Todos pareciam normais.
O carro passou barulhento.
O passo seguiu lento.
A marcha sem som dobrou a esquina.
Barulho de carro batendo e buzina.
Gritos de dor ecoaram na escuridão.
E o passo lento parou.
O sopro do furacão enfureceu o mar.
A água invadiu a cena.
Uma senhora rezou a novena.
O balão se perdeu no horizonte.
A passagem da água e do vento lavou a cidade sem sol.
A marcha sumiu.
O carro fugiu.
O céu se abriu.
O mar acalmou.
O vento soprou.
A cena do passo lento voltou vazia.
A dor na escuridão da voz que calou,
era um pranto de dor presságio de uma grande tragédia.
O carro correndo silenciou uma vida.
Abriu uma ferida na escuridão dos dias iguais.
O chão tremeu.
As casas cairam.
A marcha dobrou a esquina.
Desta vez o som de longe se ouvia.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Quem é você?

Quem é você que se esconde pelas ruas?
Quem é você que dorme enquanto todos trabalham?
Quem é você que sente ódio no peito?
Quem é você? Diga a verdade doa a quem doer.
Quem é você: Homem ou máquina?
O que é compaixão? O que é ser alguém?
O que é você? Homem máquina?
A frente do seu tempo sonha com o passado, revira cavernas para desenhar teus inimigos, um ser sem alfabeto que se comunica.
Quem é você ser humano?
Um homem ou um anjo? Uma rosa ou uma guerra? Um sorriso ou uma cela? Um dia azul ou uma vela?
Quem é você? Quem sou eu? Quem somos nós?
Viva a vida, viva o tempo, viva o momento.
Viva a hora, viva agora.
Quando souberes o que são os segundos...Viva mais.
Seja feliz , viva o chafariz.